Anta da Pêra do Moço
Anta megalítica, do grupo dos dólmens simples, de câmara poligonal, sem corredor, frequentes no Noroeste Peninsular, constituindo uma redução dos dólmens de câmara e corredor desenvolvido; no entanto, a variante mais característica da Beira é o dólmen de câmara poligonal com corredor curto ou incipiente.
Descrição
Câmara poligonal constituída por cinco esteios trapezoidais inclinados para o centro, desprovida de corredor; apresenta duas aberturas, encontrando-se um esteio fragmentado no lado N. ; coberto por chapéu de forma ovalada com cerca de 2,5 m. de diâmetro e assente em três esteios, altura média dos esteios: 2 m; largura média dos esteios: 1 m; um dos esteios do lado S. apresenta a parte mais estreita virada para baixo, ao contrário do que acontece com os restantes; não apresenta vestígios de mamoa.
Acessos
EN 221 entre os cruzamentos para Martianes e Guilhafonso, Km 178,1, sítio da Tapada da Anta
Protecção
Categoria: IIP – Imóvel de Interesse Público, Decreto nº 39 175, DG, 1ª série, nº 77 de 17 abril 1953
Enquadramento
Rural, planície, harmónico, isolado, muro, rodeado, situado entre estrada e Ribeira da Pêga, num lameiro sobranceiro a colina caracterizada por afloramentos rochosos, sendo ladeado por muro de pedra solta, carvalhos e terrenos cultivados
Cronologia
Megalítico – construção; séc. IXX – F. Martins Sarmento apresenta esboço em que a anta é representada com maior número de esteios (sete) colocando-se a hipótese de ter perdido esteios e explicando-se assim a existência de duas aberturas. Serviu de abrigo e cozinha a pastores e agricultores, apresentando-se a pedra negra no interior da câmara, que foi revolvido. 1892 – Compra do imóvel e um 1 metro de terreno em seu redor, por 22.5OO$OO, a Rodrigo Pereira e Sebastiana Maria por um grupo de amigos liderado por António Ferreira dos Santos, que depois fez a doação à Sociedade Martins Sarmento, ainda que o documento conste como título de aquisição 1989 – compra do terreno pela Junta de Freguesia; terreno anteriormente arado.
Dados Técnicos
Esteios em posição erecta
Materiais
Granito
Bibliografia
SARMENTO, Francisco Martins, Expedição Científica à Serra da Estrela, Lisboa, 1883; CORREIA, Joaquim Manuel, Antiguidades do Concelho do Sabugal, Lisboa, 19O5; VASCONCELOS, Leite de, Monumentos Arqueológicos, Lisboa; CARDOSO, Mário, Monumentos Arqueológicos da Sociedade Martins Sarmento, Guimarães, 195O; MOITA, Lirisalva, Características Predominantes do Grupo Dolménico da Beira Alta, Lisboa, 1966.
A uma dezena de quilómetros da cidade da Guarda, e a escassos metros da EN221 que se dirige para Pinhel destaca-se, pela monumentalidade e estado de conservação, a “Anta de Pêra do Moço”.
Localizada no lugar da “Tapada da Anta”, em área do vale aberto junto a uma linha de água tributária do Côa e administrativamente integrando a Freguesia de Pêra do Moço, mereceu a atenção de um conjunto de residentes da cidade da Guarda que, em 1891, a adquiriram pela quantia de 22.500 réis, oferecendo-a no ano seguinte à Sociedade Martins Sarmento (Guimarães).
Classificada como “Imóvel de Interesse Publico” desde 1953, é composta por uma câmara poligonal tendencialmente alongada (compr.: 2,70 m, larg.: 1,50 m), talvez com dois esteios de cada lado, diferenciado em planta possivelmente em alçado. O comprimento total é de 4,70 m, utilizando-se o granito como matéria-prima por excelência e apresentando-se orientada a ESSE.
Não obstante a sua monumentalidade, apresentava-se algo degradada, mutilada e espoliada de alguns dos seus monólitos, podendo colocar em causa a estabilidade do conjunto, mormente a imponente laje de cobertura.
A convivência permanente com o mundo rural, e pese embora as lendas tecidas em seu redor, ter-lhe-á causado a total destruição do montículo artificial que primitivamente a envolvia.
Com a intervenção arqueológica tida no ano de 2001, e não obstante os constantes remeximentos ocorridos ao longo dos séculos, foi ainda possível identificar as primitivas fossas de implementação dos esteios do corredor e alguns elementos de moinhos manuais, em granito, reutilizados como calços da estrutura megalítica. Quantos aos artefactos que terão acompanhado as deposições cerâmicos lisos, uma ponta de seta, um micrólito e restos de pequenas lâminas, em sílex ou quartzo, talvez indiciando uma cronologia do monumento da transição do IV para o III milénio antes de Cristo.
Quando, em 1881, Martins Sarmento visitou este dólmen descreveu-o desta forma: “Está no meio de um campo cultivado e serve, ora de cozinha, ora de abrigo aos guardas do campo ou aos rapazes que pastoreiam gado. O interior da câmara tem sido por vezes revolvido. É uma construção pequena, mas sofrivelmente conservada.”
Esta utilização rural da anta, quase umbilicalmente ligada à dura lavoura, teve como consequência a destruição de partes da mesma, situação que não impede que a possamos apreciar na sua beleza com energia suficiente para nos transportar para outros tempos, mesmo antes de o milenar castanheiro ter nascido.